quarta-feira, 15 de agosto de 2007

De volta às aulas (parte II)

Sem querer aprofundar o debate entre o público e o privado, voltemos logo à primeira aula de Legislação e Ética. Espero não correr o risco de ser processado ao dizer que fiquei surpreso com a seguinte declaração do professor: “se existe uma coisa que eu acho ser um grande erro e ainda vou ajudar a derrubar, é o Estatuto da Criança e do Adolescente”.

Devia ser quase oito e meia da manhã, mas só acordei efetivamente quando ouvi as palavras que acabo de escrever. Fiquei curioso para saber as razões daquele homem: “ Se não dou dinheiro ( aos flanelinhas menores de idade) arranham o meu carro todo. Eu não posso nem dar uns cascudos, porque se passa um policial vou preso”.

Outra roupa suja da sala de aula pendurada na janela. Já sei até do que posso ser acusado dessa vez: “malucos que defendem o Estatuto da Criança e do Adolescente” (ou ECA).

“A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade”. (artigo 3° do ECA)

Fico grato por não ter encontrado nada parecido com:

Está assegurada a concentração da riqueza e do poder, sendo a segurança de quem tem dinheiro um direito maior que os da saúde pública, da segurança alimentar e da cultura. Está prevista em lei as penas e as formas de punição do menor pobre e marginalizado, para que não se cometa o crime de arranhar o brio de uma classe e permanecer impune.

Em corrupção crônica não se mexe com profundidade. Mas estamos aprendendo a boiar na superfície dos escândalos amorosos da classe política. Afinal, que eles façam o serviço para os quais são muito bem pagos: eliminar os pobres, desqualificados e injustiçados.

Se é esse o Bem final da nossa pólis pós-moderna - a utopia da nossa ética –, então, nos restam duas escolhas: esquecer a constituição de 88 e esperar para ver no que vai dar, sem acrescentar à ignorância, a hipocrisia.... ou tentar, com duras penas, preservar o escrito para quem sabe um dia, institui-lo.

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